Para que servem os jardins?
Um artigo no The New York Times, há alguns anos, na sessão In the Garden, chamou minha atenção pelo título “The good-for-nothing garden”.
No quarto parágrafo nos é apresentado um livro, What are the gardens for?, livro preferido do proprietário, paisagista e jardineiro do jardim “good for nothing”.
Evidentemente, com a curiosidade despertada, fui atrás do livro após acabar de ler a adorável e intrigante matéria. A resposta não está lá porque esta pergunta não foi feita para satisfazer o leitor com uma resposta, mas instigá-lo e dar caminhos.
Faço e penso jardins todos os dias, e continuo tentando responder esta pergunta de muitas respostas.
Muitas facetas do meu fazer podem dar conta de parte delas.
O jardim faz bem.
O jardim não precisa ser útil, mas precisa ter significado.
O jardim oferece beleza de sobra para mente e para alma.
O jardim nos revela a nós mesmos através das emoções que desperta.
O jardim é um lugar para sentar, pensar, caminhar, olhar o céu, viver.
O jardim nos ensina a virtude de cuidar e através deste cuidado exercitar o respeito pela vida Natural.
O jardim serve para conectar pessoas.
O jardim exercita o nosso olhar na observação de suas mutações.
O jardim nos ajuda a compreender o tempo da Natureza e a exercer a humildade na aceitação deste tempo.
O jardim é silencioso, mas pode falar para nós.
O jardim é um lugar de contemplação.
O jardim é um lugar para nos intrigar. É mutável, mas inerte. Cresce, mas é imóvel.
O jardim pode nos surpreender se tivermos nossos sentidos apurados.
O jardim serve para trazer a natureza em direção ao homem e, sobretudo, trazer o homem de volta para a natureza.
O jardim serve para nos ensinar que a natureza tem muitos mistérios que não podemos desvendar, somente aceitá-los.
O jardim não substitui a Natureza, mas nos aproxima dela.
O jardim não serve para salvar a natureza da destruição pelo simples fato de existir.
O jardim nos inicia no delicado processo de aceitar e admirar o sofisticado mundo natural, tão poderoso, mas tão frágil diante da nossa força destruidora.
O jardim serve para unir arte e natureza.
O jardim não serve como espaço de imitação da Natureza.
O jardim é uma obra do homem, um lugar feito pelo homem e, portanto, trazendo do paisagista a sua visão de mundo e, especialmente, da Natureza.
O jardim nos ensina que nem toda vivência se pode trocar em palavras.
O jardim serve para nos ensinar que tem um mundo lá fora.
The good-for-nothing Garden. Michael Tortorello, The New York Times, 2013.
What Are Gardens For?: Experiencing, Making and Thinking About Gardens. Rory Stuart, Frances Lincoln Limited Publishers, 2012.
texto e foto Isabel Duprat
março de 2022